segunda-feira, 20 de junho de 2011

Colóquio Cultura Agora em Campina Grande.


A Companhia de Projecões Folclóricas Raízes participou do 'Colóquio Cultura Agora', com a participação de professores universitários, agentes e entidades culturais, reunidos em discussão dos problemas enfrentados pelos grupos e órgãos que desenvolvem atividades de cultura em Campina Grande.

A recente criação da Secretaria de Cultura de Campina Grande que tem a frente a professora Eneida Agra Maracajá, veio por meio deste espaço possibilitar a troca de opiniões e a discussão entre diferentes grupos de interesse cultural na cidade. Podemos dividir o encontro em seis abordagens de discussão: Novos espaços e públicos, Cidadania, Memória, Comunicação, Redes Sociais e Mercado Cultural, tendo como pano de fundo a cidade de Campina Grande enquanto espaço de condicionamento do debate.

Várias questões nortearam estas abordagens da cultura, eu destaco especialmente a participação popular e a "descentralização" da produção, ou das referências culturais da cidade.

Dentre as falas apresentadas, José Ataíde, sobre a contribuição cultural da FURNE e do memorialista Virgílio Brasileiro na Mesa 01, é sempre marcante o posicionamento de Moisés Alvez, que ativamente cobra, questiona, provoca o debate. Sua fala esteve voltada para a luta popular de participação, de comunicação e de produção cultural de resistência, especialmente no que se refere as periferias da cidade. Falou também sobre a importância, segundo ele, da ajuda ou da oportunidade oferecida pela academia, pelo setor artístico e político. Sobre a descentralização da Produção Cultural do centro da cidade com o objetivo de descobrir a produção artística da Periferia, e terminou:
"Carnaval de Campina Grande, merece respeito, Manuel Monteiro, merece respeito, Companhia de Cultura Mimbaquera da periferia, merece respeito, Antônio Nunes, Gilson Nunes, Hermogenes, Dilson, Arimarques Gonçalves, Jorge Marral, Sheila Maria, Biu do Violão, o Assis Chateubriand, o Colégio Estadual de Zé Pinheiro, o Hip Hop, Cós Brasileiro, Jorge Luiz iluminador desse teatro (Severino Cabral), Paulinho da SAB de Santa Rosa, os Bumba meu boi, Ipomax Vila Nova. Máuro, Raiane Araújo, Max, merecem o nosso respeito (...) construtores anônimos do que nós estamos querendo recolocar na discussão cultural de Campina Grande, nós não temos barreira (...) Qual é a vergonha, afinal de contas? Daí Eneida, se tem agora alguém perguntando, E agora José? eu já estou lhe dando alguns caminhos. E agora Secretaria de Cultura de Campina Grande?"
Também falou na mesma mesa Virgílio Brasileiro sobre a importância da criança enquanto foco da ação cultural e o reconhecimento do homem culto enquanto aquele que:
"aprendeu a aprender, sabe formular questões e dispõe de padrões de referência tanto para a rápida mobilização do saber, quanto a sua aplicação permanente"
Além da identificação do evento enquanto momento de participação popular da cultura, interesse "envolvimento dos excluídos no processo cultural".

No Segundo dia do Colóquio, eu não cheguei a participar da Mesa 02 com o Álvaro Fernandes e a Rosa Maria Correia.

A segunda mesa da manhã, a Mesa 03 "Rede de Idéias", "Cultura Arte e Cidadania" e "Cultura memória e Mobilização Comunitária" com a participação de Eliane Lisboa, Léa Amorim, Gisele Sampaio que coordenou a mesa, Ailton Eliziário e Walter Tavares, respectivamente:



Na fala da Eliane Lisboa, professora do Dart na UFCG, merece destacar a noção antropológica de cultura como todo fazer humano que identifica grupos e sociedade, a questão da cidadania enquanto participação  ou o próprio processo do fazer artístico. "O papel do artista é fazer com que o seu público e aqueles que o cercam não passem impunes pelo que ele apresenta" ou seja, arte enquanto ato de cidadania, verdadeiro e profundo com sua verdade e sua identidade. Aprofundamento de sua arte, aprofundamento de si mesmo, descoberta de si. Público enquanto comunidade que dá pertencimento e onde se insere e transformação da cultura enquanto participação comunitária.
"Comunidade parceira do artista, porque o artista precisa deles, não só para mostrar, mas para criar, precisa se alimentar desta pulsação (...) o papel do artista também é formar e o papel do órgão público é ajudar a formar, ajudar a distribuir a partilhar, eu penso em dois níveis de formação, atualização e ensino. Abrir as portas do pensamento, ampliar o conhecimento, criar experiências provocadoras, trocar experiências"
E terminou falando da parceria Educação e Cultura, e a criança como foco de uma Educação Cultural.


 
Depois da professora Eliana, falou o Diretor do Museu Histórico de Campina Grande, o jornalista Walter Tavares, que teve sua fala bastante marcada pela denúncia da destruição do Patrimônio Histórico da cidade. Walter também lamentou a queda da produção cultural comparada a década de 1970. Também falou sobre a destruição do Patrimônio Histórico desde a década de 1940 com a modernização da cidade pelo então prefeito Vergniaud Wanderley, a destruição da casa do prefeito Cristiano Lauritzen, o prédio da Sociedade Beneficente dos Artistas, a casa de Acácio Figueiredo, o palacete próximo a Supermercado Ideal. Falou sobre o entorno da Estação Velha, os armazéns de carga, a prensa de algodão hidráulica, escritório de exportação, o curtume dos Mota, o Acúde Velho, sobre o largo das Boninas e a fábrica Marcus de Almeida a Saboaria Pernanbucana e a Vila Pororoca. Falou também sobre a importância da mobilização Estudantil, sobre a Cultura Popular do carnaval de Campina Grande, os Papangus, os Bois de Carnaval, os Caboclinhos, a Feira de Campina.

Em seguida a fala da professora Léa Amorim, que reprensentou o lugar acadêmico no debate sobre o Patrimônio da cidade. Dando continuidade ao discurso de denúncia da destruição do Patrimônio, Léa Amorim falou sobre a desmemória da cidade, e citou Fernand Braudel "Não há História sem Memória". Ela também citou as tentativas de construção do Instituto Histórico e Geográfico de Campina Grande que seria o abrigo da memória de Campina Grande, como aquele que deveria ter sido o responsável pela manutenção da produção historiografia assim como da produção e reprodução de uma memória e de uma história da cidade. Ela cita todo um conjunto de intelectuais e memorialistas, Dr. João Tavares, Epaminondas Câmara, Cristino Pimentel, Elpídio de Almeida. "Onde guardar a memória de Campina Grande, depois da reforma de Vergniaud Wanderley?". Ela separou em três tentativas de construção do Instituto Histórico e Geográfico de Campina Grande, em 1947, em 1970 que contava com a participação dos intelectuais anteriores e outros Hortêncio Ribeiro, William Tejo, Marisa Braga. A terceira fundação com Dr. Virgílio Brasileiro, pelo advogado Amauri, segundo a fala da professora Léa Amorin.



Por fim o professor Ailton Eliziário, presidente da Academia Campinense de Letras, que falou sobre a Constituição de 1988, e do Patrimônio Imaterial assim como as manifestações populares. "A memória não deve estar a cargo do Estado ou do Município, mas da comunidade, que tem que se reunir e movimentar, a Cultura que depende do Estado ou o Estado que depende da Cultura?".


Encerrando o Evento na parte da tarde as Mesas 04 e 05 foram responsáveis por discutir sobre "Cultura, comunicação e Redes Sociais" e "Novos Modelos e Negócios no Mercado Cultural", respectivamente.



Destaque também para a fala do professor Luíz Custódio, enquanto estudioso dos Estudos Culturais sobre a relação entre Cultura e Comunicação, e a necessidade da mediação entre estes setores. Comunicação na formação de novas platéias, novos produtores, novos cenários de cultura e mídias. "Como construir, como trabalhar novos projetos culturais numa sociedade midiatizada, em meio aos valores da indústria cultural e mídia neste processo?" Educar para a Cultura e a Edocumunicação como meio de transformação da cultura. Custódio falou também sobre o papel do Jornalismo Cultural e da necessidade em trabalhar de forma crítica os produtos culturais e da formação de uma nova geração de jornalistas culturais.
No momento seguinte falou a Raija Almeida, professora do curso de Edocumunicação da UFCG, que mencionou a importância das Redes Sociais no processo de redistribuição dos bens culturais e do fazer cultural, colocando o mundo virtual como palco de ação, de comunicação e da Cultura. Ciberespaço como pólo mobilização Cultural e Comunitária.

Por fim o Ivan di Paula, representante da CUFA, que deu segmento a importância da valorização das manifestações culturais através das Redes Sociais, como forma de socialização e democratização do bens culturais, justificando a sua fala pelo reconhecimento de que estas redes pertencem e interagem com todos os segmentos sociais no Brasil e no mundo.

Encerrando a Mesa 05, que falou sobre "Novos Modelos e Negócios no Mercado Cultural", onde Amazile Vieira e o produtor cultural do Dart Aloísio Guimaraes também, mediado pela Regina Albuquerque assessora técnica de projetos do Estado da Paraíba.


Que falou sobre o meio cultural da produção artística, inserida no mercado cultural. Criticou o assistencialismo cultural fomentado através das Leis de Incentivo e incentivou a produção cultural e a inserção no mercado de forma consciente, atualizada e madura. Falou sobre o estereótipo cultural como o um tipo de especulação, que confunde e prejudica o mercado cultural como um todo.


"Eu acho que esta na mão do governo uma parte deste problema para se resolver, mas a maior parte deste problema esta nas mãos daqueles que se dizem artistas (...) Campina Grande tem mercado consumidor de cultura e arte, temos bons aparelhos e espaços para preencher, vamos produzir e justificar a criação de outros espaços"

Por fim a fala da Amazile Vieira que deu segmento a discussão e falou sobre a formação do profissional  Produtor artístico e cultural. A necessidade de profissionais neste sentido no mercado cultural de Campina Grande.

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